terça-feira, 10 de maio de 2022

Enciclopédia Toffees - “A Grande Escapada”

                                             

Para o segundo capítulo da nossa Enciclopédia Toffees, impulsionados pela fase complicada em que vive o nosso clube, resolvemos narrar um grande fato de superação e sobrevivência na história do Everton. Vamos hoje saber um pouco mais sobre o que ficou conhecido como “The Great Escape” ou, em bom português, “A Grande Escapada”!

Após o título da liga de 1986-87, o lendário treinador Howard Kendall deixa o comando da equipe, segue os passos de Gary Lineker e vai à Espanha, para assumir o Athletic Bilbao. Sob a gerência de Colin Harvey, o clube inicia um grande processo de decadência, em uma má fase dentro de campo e o acúmulo de dívidas fora dele. Como consequência, o Everton acabou optando pelo retorno de Kendall, que, em sua segunda passagem, não chegou nem próximo do sucesso alcançado anteriormente e acabou renunciando ao cargo no fim de 1993.

Após uma nova saída do maior treinador da história do clube, o Everton inicia a busca por um sucessor, o encontrando na figura de Mike Walker, até então o técnico do Norwich City, que havia levado a equipe ao terceiro lugar da liga na temporada anterior e derrotado o Bayern em Munique pela Copa da UEFA. Walker assume o Everton em janeiro de 1994, àquela altura na 13ª posição e, apesar de todo o êxito alcançado com a equipe de East Anglian, chega em maio com os Toffees ocupando o 20º lugar em uma classificação com 22 equipes, ou seja, na zona de rebaixamento, ameaçando a sequência de 40 anos consecutivos na elite do futebol inglês.

A atmosfera em Goodison Park, no dia 07 de maio de 1994, foi eletrizante. Os aficionados torcedores do Everton foram do desespero à glória em questão de 90 minutos, com o time sobrevivendo ao rebaixamento no último jogo da temporada, em uma dramática vitória de virada contra o Wimbledon.

A arquibancada principal estava lotada, as ruas no entorno da nossa casa estavam abarrotadas de evertonians apaixonados. Em um estádio com apenas três estandes de arquibancada, na época, Everton e Wimbledon chegaram para uma disputa em que os Blues, simplesmente, não poderiam pensar em perder. Com um fraco rendimento recente, vencendo apenas 1 dos últimos 10 jogos na Premier League, o Everton chegou a esse jogo à beira do abismo, praticamente rebaixado pela terceira vez na história do clube.

Os Toffees começaram a partida um ponto atrás de Southampton, Sheffield United e Ipswich Town, e um à frente do Oldham Athletic. Com tantas combinações possíveis, a equipe do técnico Mike Walker tinha a obrigação de vencer. Quanto ao nosso adversário nesta tão ingrata missão, pode-se dizer que o Wimbledon vinha embalado, ocupando a sexta posição e em busca de mais uma vitória, para confirmar o seu melhor resultado na história da Premier League.

O Goodison Park estava muito bem preparado para esse grande desafio, porém, toda aquela agitada multidão não demorou a ser silenciada. Logo aos quatro minutos de jogo, quando o ala sueco, Anders Limpar, inexplicavelmente, cortou uma cobrança de escanteio do Wimbledon com a mão, dentro da pequena área, o árbitro Robbie Hart não teve outra opção senão apontar para a marca da cal e Dean Holdsworth, como se deve, colocou os Dons na liderança. Limpar estava, obviamente, desapontado consigo mesmo e toda a torcida foi surpreendida por um prematuro revés.

Aos 20 minutos, então, mais um duro golpe atinge as pretensões do Everton de se manter na Premier League. Após uma cobrança de falta despretensiosa do Wimbledon, Andy Clarke acerta um remate que, com certeza, iria para longe da baliza evertonian, contudo, o sentimento de infelicidade rondava os nossos jogadores e Gary Ablett desvia a bola para um doloroso gol contra. O fantasma do rebaixamento nos assombrava cada vez mais e o time precisava de um esforço de proporções heroicas para não cair de divisão.

Quatro minutos após a decepção e o desespero de um gol contra, o Everton dá início ao seu próprio milagre, a sua Grande Escapada! Após uma cobrança de escanteio de Anders Limpar (ainda em busca de redenção) ser cortada para fora da área, o próprio ala sueco recebe e tenta avançar em direção ao gol. Sentindo a aproximação de um adversário, ele mergulha dentro da área, de forma claramente fingida, entretanto, não para o árbitro da partida, que anota a penalidade máxima. Foi o meia-atacante inglês, Graham Stuart, recém-chegado do Chelsea, quem se responsabilizou pela cobrança, deslocando o goleiro do Wimbledon com muita maestria, diminuindo o placar para 1 x 2 e reacendendo as esperanças dos apaixonados torcedores azuis.

Ainda antes do intervalo, aos 34 minutos de jogo, o atacante adversário, Dean Holdsworth, acerta um cabeceio dentro da pequena área, fazendo a bola quase resvalar no travessão e arrancando suspiros de alívio dos evertonians presentes. Seria, definitivamente, o ponto final nessa luta do Everton pela permanência. Dessa forma, então, termina o primeiro tempo com a equipe azul de Merseyside perdendo por dois tentos a um, ainda na zona de rebaixamento.

Já na segunda etapa da partida, quase aos 66 minutos, o mesmo Graham Stuart corta em cima da linha mais um cabeceio de Holdsworth, inclusive permanecendo por um tempo a dúvida de que se o meia-atacante usou o braço ou apenas o peito, sendo confirmado a legalidade do lance, segue o jogo. Se a bola tivesse entrado, poderia ter mudado toda a trajetória de recuperação que veio logo a seguir.

Isso porque, pouco mais de um minuto depois, o meia galês, Barry Horne, aproveita uma bola sobrada em uma disputa aérea no meio-campo, avança em direção ao gol e acerta um belíssimo arremate da zona intermediária. A bola ainda teima em bater na trave antes de desviar para dentro do gol, empatando a partida. O Everton estava mais vivo do que nunca na Premier League, porém, a vitória seguia como o único resultado possível para evitar o rebaixamento.

Já dentro dos dez minutos finais do tempo regulamentar, Graham Stuart, principal protagonista evertonian nesse jogo, volta a se destacar. Após uma rápida troca de passes com Tony Cottee na entrada da área, o meia-atacante acertou um chute rasteiro e fraco no gol do Wimbledon. Felizmente, para nós, o goleiro adversário não foi capaz de evitar e o Everton passou a frente no placar, em uma virada emocionante e histórica. Dali em diante, bastou apenas manter os ânimos e a partida sob controle e comemorar a permanência, com a 41ª primeira temporada seguida na elite inglesa sendo confirmada.

A temporada 1993-94 do Everton na FA Premier League foi bastante desastrosa para um clube tão tradicional e cheio de glórias, chegando a 12 vitórias, 8 empates e 22 derrotas em 42 jogos, o que resultou em uma pífia 17ª colocação entre 22 clubes e um rendimento de apenas 34% no somatório de pontos e tendo, também, anotado 42 gols (3º pior ataque da competição, empatado com duas equipes que foram rebaixadas) e sofrido 63 gols (4ª pior defesa do campeonato), terminando com um saldo negativo de 21. A beleza do futebol é tanta que, apenas um ano e 13 dias depois, o Everton conquistava sua 5ª FA Cup, em cima do Manchester United, último título dos Toffees até a publicação deste texto. Autor: Adauto Santiago

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