sábado, 1 de agosto de 2020

Um Tributo à Leighton Baines


Eu pensei bastante em escrever algo assim que acabou Everton 1x3 Bournemouth, no último domingo. Há alguns anos, nem hesitaria em abrir o blog e digitar o que viesse à cabeça, mas no final das contas eu deixei para lá. Pensei em ignorar tudo isso e pronto, besteira, é só futebol. Mas aqui estou neste sábado, atolado de serviços, mas não consegui deixar passar essa necessidade de bater um papo com vocês, como há muito tempo não fazia nesse endereço querido.

O camisa 3

Quando eu pude assistir aos jogos do Everton com frequência, lá para 2012, se ouvia muito sobre o Baines, que até então não era minha referência do clube. Apenas quando passei a assistir aos jogos, que pude ver a qualidade dele e entender porque Arsenal e Manchester United o sondavam na época.

O inesquecível gol de falta contra o Newcastle, na virada do ano de 2013.

Nessa época, já no auge físico e técnico aos 28 anos, Baines deu um passo além e fez uma temporada gigante em 2012-13. Em alguns jogos, havia uma expectativa dele fazer um hat-trick, algo que nunca tinha visto em torno de um defensor. Pienaar havia acabado de voltar ao clube e a dupla parecia não ter perdido nem 1% do entrosamento, no período em que o sul-africano se juntou ao Tottenham, entre 2011 e 2012. As tabelinhas e as subidas em profundidade do camisa 3 marcaram o time por muito tempo. Gary Neville chegou a mencionar que a dupla foi um fator decisivo para sua aposentadoria. Em 2013, com a saída de David Moyes para o Manchester United, instantaneamente colocaram o nosso lateral a um passo do clube de Manchester.

Veio uma proposta ridícula por ele e Fellaini; o clube recusou. Mais uma tentativa fracassada, e no meio de 2013, o belga foi para o Old Trafford e o lateral decidiu ficar. O que é uma dinâmica natural no mundo das negociações significou muito para a torcida dos Toffees: algo parecia mudar, nossa principal estrela decidiu ficar em Goodison Park. A temporada que decorreu em seguida foi a melhor de nossa história na era Premier League; após isso, temos vivido momentos vertiginosos, que simbolizam uma queda brusca - não tanto em termos de posição na tabela, mas de futebol apresentado e de atitude.


Mesmo com tudo isso, o legado de Baines não se desfez dentro do Everton. Após o atrito público com Martinez, a torcida se juntou em uma só frase: "Baines é um de nós". A necessidade de um substituto tornou-se mais evidente após um período de lesões na temporada 2017-18, e o clube conseguiu acertar nisso, com a chegada de Lucas Digne. Ainda assim, podemos argumentar que o nosso camisa 3 poderia ter atuado mais no último ano, tendo mostrado ainda muita qualidade técnica e melhor preparo físico, enquanto Digne oscilou em diversas partidas nos últimos meses.

A despedida do inglês não poderia ser mais triste: outro jogo ruim do time, derrota em casa para o Bournemouth (que nunca havia vencido em Goodison Park). O carrinho que o próprio Baines deu em Wilson (?) foi o momento mais "enérgico" do time na partida. Sem torcida, que aguardava algum anúncio sobre a saída ou renovação de contrato do mesmo. O anúncio de sua aposentadoria foi um pouco surpreendente, mas um quanto óbvia, conhecendo o atleta. 

Acredito que não preciso dizer o quão prazeroso foi ver o lateral inglês jogar ao longo da última década, e o quanto sua persona trazia o que há de mais positivo no Everton: classe, talento e disciplina. A personalidade discreta e fora do padrão dos futebolistas também chamou a atenção de muitos, dando à Leighton a fama de "atleta indie" ou "Alex Turner" do futebol. Não somente a paixão à música, mas também à fotografia - procurem por "The Plagiarist" no Instagram; Baines definitivamente não era qualquer, mas era um de nós. E nós teremos de procurar outros que sejam como a gente, dentro de campo, a partir de setembro.

O nosso muito obrigado e reverência à Leighton John Baines.