Desde a mais tenra infância, quando enfim eu tomava conta de minha própria
identidade e começava a fazer as escolhas que me tornariam exatamente quem eu
sou hoje, inicia-se a minha relação com o futebol e a música, a imensa maioria
das vezes de modo separado e a primeira, sobretudo, sob a influência do meu
saudoso pai.
Muito cedo eu já
me via frequentando os caldeirões do futebol cearense, o Estádio Presidente
Vargas, conhecido popular e carinhosamente como “P.V.”, e o imenso Castelão,
torcendo para o Ceará Sporting Club, o querido Vozão, time de coração do meu
pai, seu Raimundo Santiago. E bem a tempo de acompanhar o, agora, penúltimo
título brasileiro do Palmeiras, em 1994.
A partir dali eu
teria muitas emoções com o futebol, desde as mais eufóricas e alegres, as mais
infelizes e melancólicas, culminando com o descenso de um clube (Palmeiras) que
conquistara a América a não mais que 3 anos atrás. Neste meio tempo eu descobri
os prazeres de se ouvir uma boa música e o quão a música representava meu
próprio ser em diversos momentos é incomensurável. De modo a analisar a minha
prática com o futebol e a música, posso dizer que meu talento para a segunda,
apesar de ainda pequeno, é potencialmente superior ao primeiro. Sempre fui
classificado, por mim e pelos demais, como um autêntico perna-de-pau, obtendo,
inclusive, um maior sucesso com o handebol do que com a bola nos pés. Já na
música, eu arranhei alguns acordes com o vocal e ajudei a compor algumas
músicas autorais de uma banda que saíra da garagem apenas uma única vez, em um
pequeno e caseiro show de calourada universitária.
Muitos clubes
ganharam minha simpatia neste intervalo de mais de 20 anos, Fluminense,
Botafogo, Vasco e Flamengo (sim, eu era vira-casaca no Rio sim!), Chelsea, Real
Madrid, etc. Durante esse período eu também deixei de torcer pelo Ceará, entretanto
não deixei de acompanhar, pois creio que isso represente muito mais uma última
ligação com meu pai do que qualquer paixão futebolística. As duas décadas
também me trouxeram várias paixões musicais: Linkin Park, Evanescence, uma fase
mais heavy metal na adolescência (Angra, Shaaman, Sonata Arctica, Rhapsody,
Stratovárius, etc.), gostos mais recentes por bandas nem tão atuais, como
Legião Urbana, Nirvana, Foo Fighters, Los Hermanos e, indiscutivelmente a minha
grande paixão musical, The Beatles. E é exatamente aí, nos 4 rapazes de
Liverpool, que eu posso dizer que inicia-se a maior relação entre futebol e
música da minha vida.
Trazendo para os
dias atuais, o que me move a acompanhar futebol é o velho Palmeiras, minha
primeira e eterna paixão futebolística, até que enfim de volta as boas fases,
e, para a surpresa daqueles que me tinham como amigo mais antigo e os que me têm
como mais recente, o Everton Football Club da Inglaterra, o clube azul da
cidade dos Beatles... Opa! Chegamos onde eu queria. Muitos me perguntam o
porquê de eu torcer para um clube que não figura quase nada na mídia brasileira
e eu devo esclarecer que, um dos motivos, senão o motivo inicial do interesse,
foi uma frase dita, até de certo modo errônea, por um grande amigo acerca do
Everton: “O time dos Beatles!”. Eu, àquela altura já um fã inveterado dos
rapazes (hoje, idosos) de Liverpool, um verdadeiro beatlemaníaco, me interessei
por pesquisar esse fato e também sobre o clube, descobrindo, em uma simples busca
no Google, que apenas o Paul era declaradamente um torcedor dos Toffees e
apaixonando-me perdidamente pela rica e pioneira história desse clube tão
simpático, fundado no ano de 1878. A partir daí, por volta de Novembro de 2012,
eu passaria a viver muito em função da minha paixão pelo Everton, torcendo,
vibrando e sofrendo junto com todos os evertonians ingleses e do mundo.
Mas o que me levou a escrever este texto? Vocês podem perguntar. E eu,
novamente, seria levado a respondê-los que tratou-se de mais uma das vezes em
que a mística relação entre a música e o futebol arrebataria minha vida, como
fez e faz com a vida de muitos torcedores e fãs. Estava eu acompanhando, no que
compete a esta data, o último jogo do Everton pela Premier League, em pleno Goodison
Park, contra o Arsenal. Vindo de muitas recentes decepções e raivas com o time
agora treinado por Ronald Koeman, inclusive, após a derrota no jogo anterior a
este, ameaçando deixar de acompanhar os jogos, nada esperava além de mais um
fracasso contra o vice-líder da competição. O jogo começou até bom, bem
disputado e com os Toffees jogando bem. É então que me sai um gol do
adversário, advindo de uma falta tola provocada pelo atabalhoamento de um
zagueiro, o capitão do time, Phil Jagielka, e uma bola desviada na perna do
outro zagueiro, o galês Ashley Williams. “Pronto, começou... Lá vem mais uma
tarde arrasada por uma cagada do Everton!” foi o que eu tristemente pensei e
até proferi. Todavia, este fato fez com que o time reagisse como até então não
reagira nessa tenebrosa fase recente da temporada, indo pra cima, jogando com
raça e vontade de vencer, conseguindo um gol de empate em um lindo cruzamento
de perna destra do lateral-esquerdo Leighton Baines para um gol de cabeça do
lateral-direito de estatura mediana, Seamus Coleman. O segundo tempo vem e o
Everton segue bem, atacando e sendo atacando, porém não parecendo disposto a se
entregar jamais. Então, em uma jogada já na parte final do segundo tempo de
jogo, salvo engando uma falta lateral no setor direito do campo
de ataque evertonian, eu resolvo colocar a música “Thunderstruck”, do AC/DC,
pra rodar no celular, uma música pra lá de vibrante e que tem representado
coragem pra mim nos últimos dias. Após a cobrança da falta, a bola é desviada para
a linha de fundo. Escanteio para o Everton. A música continua e eu me concentro
nela, na torcida que está no estádio e no cobrador do tiro de canto, o meia
Ross Barkley. Vem a cobrança e... Tá lá! GOL DA VIRADA DO EVERTON! Gol de
cabeça do zagueiro que desviara a bola para o infeliz gol do Arsenal, Ashley
Williams. Eu levantei em um pulo da cama, gritando gol e vibrando feito louco
(que me perdoem os vizinhos, mas Everton é Everton!). Deixo a música em um loop
contínuo no APP do celular e, ao som da banda australiana, eu vejo a equipe do
norte de Londres atacar sem sucesso e esbarrar inclusive em uma bola salva em
cima da linha. E é isso, uma vitória que lavou a alma de todos os evertonians
e, outra vez, a música me empurrou para o sucesso!
Belo texto, cara! COYB!
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