sábado, 17 de dezembro de 2016

TROVÃO EVERTONIAN - FUTEBOL, MÚSICA E A PAIXÃO DE UM BRASILEIRO PELO EVERTON FOOTBALL CLUB


Desde a mais tenra infância, quando enfim eu tomava conta de minha própria identidade e começava a fazer as escolhas que me tornariam exatamente quem eu sou hoje, inicia-se a minha relação com o futebol e a música, a imensa maioria das vezes de modo separado e a primeira, sobretudo, sob a influência do meu saudoso pai.
Muito cedo eu já me via frequentando os caldeirões do futebol cearense, o Estádio Presidente Vargas, conhecido popular e carinhosamente como “P.V.”, e o imenso Castelão, torcendo para o Ceará Sporting Club, o querido Vozão, time de coração do meu pai, seu Raimundo Santiago. E bem a tempo de acompanhar o, agora, penúltimo título brasileiro do Palmeiras, em 1994.
A partir dali eu teria muitas emoções com o futebol, desde as mais eufóricas e alegres, as mais infelizes e melancólicas, culminando com o descenso de um clube (Palmeiras) que conquistara a América a não mais que 3 anos atrás. Neste meio tempo eu descobri os prazeres de se ouvir uma boa música e o quão a música representava meu próprio ser em diversos momentos é incomensurável. De modo a analisar a minha prática com o futebol e a música, posso dizer que meu talento para a segunda, apesar de ainda pequeno, é potencialmente superior ao primeiro. Sempre fui classificado, por mim e pelos demais, como um autêntico perna-de-pau, obtendo, inclusive, um maior sucesso com o handebol do que com a bola nos pés. Já na música, eu arranhei alguns acordes com o vocal e ajudei a compor algumas músicas autorais de uma banda que saíra da garagem apenas uma única vez, em um pequeno e caseiro show de calourada universitária. 
Muitos clubes ganharam minha simpatia neste intervalo de mais de 20 anos, Fluminense, Botafogo, Vasco e Flamengo (sim, eu era vira-casaca no Rio sim!), Chelsea, Real Madrid, etc. Durante esse período eu também deixei de torcer pelo Ceará, entretanto não deixei de acompanhar, pois creio que isso represente muito mais uma última ligação com meu pai do que qualquer paixão futebolística. As duas décadas também me trouxeram várias paixões musicais: Linkin Park, Evanescence, uma fase mais heavy metal na adolescência (Angra, Shaaman, Sonata Arctica, Rhapsody, Stratovárius, etc.), gostos mais recentes por bandas nem tão atuais, como Legião Urbana, Nirvana, Foo Fighters, Los Hermanos e, indiscutivelmente a minha grande paixão musical, The Beatles. E é exatamente aí, nos 4 rapazes de Liverpool, que eu posso dizer que inicia-se a maior relação entre futebol e música da minha vida.
Trazendo para os dias atuais, o que me move a acompanhar futebol é o velho Palmeiras, minha primeira e eterna paixão futebolística, até que enfim de volta as boas fases, e, para a surpresa daqueles que me tinham como amigo mais antigo e os que me têm como mais recente, o Everton Football Club da Inglaterra, o clube azul da cidade dos Beatles... Opa! Chegamos onde eu queria. Muitos me perguntam o porquê de eu torcer para um clube que não figura quase nada na mídia brasileira e eu devo esclarecer que, um dos motivos, senão o motivo inicial do interesse, foi uma frase dita, até de certo modo errônea, por um grande amigo acerca do Everton: “O time dos Beatles!”. Eu, àquela altura já um fã inveterado dos rapazes (hoje, idosos) de Liverpool, um verdadeiro beatlemaníaco, me interessei por pesquisar esse fato e também sobre o clube, descobrindo, em uma simples busca no Google, que apenas o Paul era declaradamente um torcedor dos Toffees e apaixonando-me perdidamente pela rica e pioneira história desse clube tão simpático, fundado no ano de 1878. A partir daí, por volta de Novembro de 2012, eu passaria a viver muito em função da minha paixão pelo Everton, torcendo, vibrando e sofrendo junto com todos os evertonians ingleses e do mundo.
Mas o que me levou a escrever este texto? Vocês podem perguntar. E eu, novamente, seria levado a respondê-los que tratou-se de mais uma das vezes em que a mística relação entre a música e o futebol arrebataria minha vida, como fez e faz com a vida de muitos torcedores e fãs. Estava eu acompanhando, no que compete a esta data, o último jogo do Everton pela Premier League, em pleno Goodison Park, contra o Arsenal. Vindo de muitas recentes decepções e raivas com o time agora treinado por Ronald Koeman, inclusive, após a derrota no jogo anterior a este, ameaçando deixar de acompanhar os jogos, nada esperava além de mais um fracasso contra o vice-líder da competição. O jogo começou até bom, bem disputado e com os Toffees jogando bem. É então que me sai um gol do adversário, advindo de uma falta tola provocada pelo atabalhoamento de um zagueiro, o capitão do time, Phil Jagielka, e uma bola desviada na perna do outro zagueiro, o galês Ashley Williams. “Pronto, começou... Lá vem mais uma tarde arrasada por uma cagada do Everton!” foi o que eu tristemente pensei e até proferi. Todavia, este fato fez com que o time reagisse como até então não reagira nessa tenebrosa fase recente da temporada, indo pra cima, jogando com raça e vontade de vencer, conseguindo um gol de empate em um lindo cruzamento de perna destra do lateral-esquerdo Leighton Baines para um gol de cabeça do lateral-direito de estatura mediana, Seamus Coleman. O segundo tempo vem e o Everton segue bem, atacando e sendo atacando, porém não parecendo disposto a se entregar jamais. Então, em uma jogada já na parte final do segundo tempo de jogo, salvo engando uma falta lateral no setor direito do campo de ataque evertonian, eu resolvo colocar a música “Thunderstruck”, do AC/DC, pra rodar no celular, uma música pra lá de vibrante e que tem representado coragem pra mim nos últimos dias. Após a cobrança da falta, a bola é desviada para a linha de fundo. Escanteio para o Everton. A música continua e eu me concentro nela, na torcida que está no estádio e no cobrador do tiro de canto, o meia Ross Barkley. Vem a cobrança e... Tá lá! GOL DA VIRADA DO EVERTON! Gol de cabeça do zagueiro que desviara a bola para o infeliz gol do Arsenal, Ashley Williams. Eu levantei em um pulo da cama, gritando gol e vibrando feito louco (que me perdoem os vizinhos, mas Everton é Everton!). Deixo a música em um loop contínuo no APP do celular e, ao som da banda australiana, eu vejo a equipe do norte de Londres atacar sem sucesso e esbarrar inclusive em uma bola salva em cima da linha. E é isso, uma vitória que lavou a alma de todos os evertonians e, outra vez, a música me empurrou para o sucesso!

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