sexta-feira, 13 de maio de 2016

O Sonho de Roberto Terminou: Martinez deixa o Everton


Na tarde da última quinta-feira (12), o Everton confirmou o que diversos jornais anunciaram pela manhã: Roberto Martinez deixou seu cargo de treinador dos Toffees. Após quase três anos desde sua chegada, Roberto viveu um "sonho" em sua primeira temporada; mas, desde então, encontra-se em queda livre, o que culminou em sua saída.

Além de Martinez, sua comissão técnica formada por Graeme Jones, Dennis Lawrence, Inaki Bergara e Kevin Reeves também deixará o Everton. Joe Royle e David Unsworth (técnico do sub-21) assumirão o posto de Martinez na partida contra o Norwich, que encerra a temporada 2015/16. O evento de premiação aos "melhores da temporada" foi cancelado devido a atual circunstância; o clube aproveitou para doar os alimentos que seriam consumidos durante o evento para instituições de caridade e outras organizações. Dentro os principais especulados para substituir o técnico de 42 anos, estão os holandeses Ronald Koeman e Frank de Boer, os veteranos Pellegrini e Mark Hughes, Martin O'Neill, o improvável José Mourinho e o ex-Toffee David Moyes.

Joe Royle e David Unsworth assumirão o comando do time na partida deste fim de semana, contra o Norwich
Frank De Boer e Ronald Koeman aparecem como principais alvos do Everton para substituir Martinez
A atual temporada, rumores de desentendimentos com jogadores (algo que Pienaar e Mirallas inflamaram em suas redes sociais) e os recentes protestos da torcida foram os fatores principais do fim de uma era que, apesar de curta, parece ter sido intensa e longa. O próximo verão europeu tem tudo para mexer ainda mais com o clube, em comparação com o verão de 2013, quando Martinez desembarcou em Liverpool.

COMO TUDO COMEÇOU

*Pequena nota: como entusiasta do treinador desde sua chegada até meados da temporada 2014/15, o sentimento de confusão e decepção talvez seja mais notório em mim e em quem tinha a mesma visão sobre o espanhol.

As lembranças ainda estão frescas na cabeça do torcedor: a temporada 2013/14 foi uma quebra de rotina, apesar da quinta colocação quase corriqueira nos últimos anos. Roberto Martinez, prestes a completar 40 anos, assumiu a vaga deixada por David Moyes disposto a corresponder às expectativas freadas pelo escocês em suas últimas temporadas no clube; a agora infame frase de Bill Kenwright talvez seja o maior símbolo da ambição do recém-chegado técnico: "Quando David Moyes me encontrou pela primeira vez, há onze anos atrás, quando estávamos em um momento ruim, ele disse 'não iremos cair'. As primeiras palavras de Roberto foram: 'te colocarei na Champions League'".

A primeira temporada da Era Martinez foi extremamente positiva
E foi por muito pouco que Martinez não fez isso logo em sua primeira temporada: um recorde de 72 pontos na liga (maior pontuação do Everton na era Premier League), 21 vitórias e a quinta colocação. Nesta temporada, o segundo colocado e provável vice-campeão Tottenham tem 70 pontos, podendo chegar aos 73 caso vença no próximo fim de semana. O Everton se classificou para a Europa League 2014/15 como um dos possíveis favoritos da competição, revivido por um ótimo futebol e pela situação administrativa mais estável.

2014/15 veio, começou ruim, com uma derrota de 6 a 3 para o Chelsea após dois jogos em que os Toffees abriram o placar e cederam o empate no fim. De certa forma, o time repetiu essa fórmula negativa no decorrer da temporada do campeonato inglês, com a Liga Europa tornando-se uma válvula de escape, onde o time conseguia dar sinais de que o talento continuava ali. Porém, a situação mudou logo com a virada do ano: uma homérica derrota de 5 a 2 para o Dynamo Kiev e a eliminação na UEL, outras duas eliminações prematuras na Copa da Liga e na FA Cup, além de erros e mais erros na Premier League que culminaram na 11ª colocação.

A QUEDA

Porém, após duas temporadas na parte de baixo da tabela, performances pífias e o crescente descontentamento da torcida, Martinez deixou o clube
Mesmo com duas temporadas "extremas", houve cautela quanto a uma saída do treinador antes do início da atual temporada. Na primeira partida, contra o Watford, o Everton continuou com o mesmo comportamento de 2014/15, penando para arrancar um empate em casa. Depois, veio a lembrança de 2013/14: vitória fora de casa pra cima do Southampton por 3 a 0. Durante o primeiro turno o time se comportou assim: brilhante em algumas ocasiões, vexaminoso em outras.

Mais uma vez a copa, ou melhor, as copas serviram como escapatórias: o time avançou tanto na Copa da Liga quanto na FA Cup até às semifinais das competições, caindo para os dois times de Manchester (City na COC, United na FA). Com o desempenho cada vez pior na liga, acumulando derrotas e com vitórias esporádicas, em sua maioria contra adversários que lutavam para não cair, a paciência da torcida com o técnico espanhol foi se esvaindo: nos últimos dois meses, a insatisfação dos torcedores se intensificou, com faixas com os dizeres "Martinez Out" expostas nas últimas partidas, conversa entre o técnico e um torcedor durante uma partida do time sub-21, invasão de campo de um torcedor aparentemente a fim de "confrontar"o ex-Wigan... a situação foi ficando cada vez mais insustentável. Após mais uma goleada sofrida em Derby, mais a eliminação na FA Cup e novas derrotas fora de casa, o clube decidiu romper com o técnico antes do término oficial de 2015/16.

CONCLUSÃO

Martinez foi vítima de si mesmo. É desonesto achar que ele não se comprometeu com o clube. Sua ligação com o Everton foi instantânea, e ele fez de tudo para criar um ambiente nostálgico e propenso às glórias do passado. Em termos de contratações, apesar de seus "erros" (Alcaraz, McGeady, Eto'o), os acertos se firmaram no time titular e enquanto seu método esteve em funcionamento, tivemos a chance de ver um time organizado, eficiente e com plena ambição.

O problema foi a teimosia, a aversão à reinvenção. Em sua segunda temporada pelo clube, logo no início, ficou claro que Martinez havia sido "descoberto" pelos outros times. Pressiona a saída de bola, bloqueia o Barry, controle a linha de defesa... e pronto, o Everton estava travado. E esse processo de "repetir o mesmo erro achando que ele virará acerto em alguma hora" se estendeu por duas temporadas.

A teimosia foi o maior erro de Martinez: manter sua filosofia de jogo sempre acima dos resultados
Sempre usando o 4-2-3-1, sempre dependente do Barry para organizar o meio de campo, mas o que mais chamou a atenção nesses últimos dois anos foi a ineficiência defensiva do time: em 2013/14, o Everton teve a terceira melhor defesa da liga (39 gols sofridos); nas últimas duas temporadas, foram 105 gols sofridos (50 em 2014/15, 55 nesta temporada). A sólida defesa era uma característica deixada por Moyes, e que foi desmantelada pelo Martinez. Em contraste, o ataque tornou-se mais eficiente em comparação com os times do escocês, especialmente com o "desabrochar" de Barkley e a chegada de Lukaku. O escocês e o espanhol são opostos que poderiam se complementar. O Everton de Moyes já havia passado de seu auge em 2013 e foi justamente em cima da frustração causada pelos últimos anos do ruivo no comando do time onde Martinez decidiu trabalhar: a cautela e apatia passaram a dar lugar ao otimismo e ambição. É importante ressaltar também o trabalho de Martinez na base do clube, com as contratações de nomes promissores (Galloway, Holgate, Henen) e planejamento (criação de um mini-estádio em Finch Farm, além de sua ampliação como centro de recuperação e concentração de atletas).

A questão é que o otimismo virou cinismo a cada declaração pós-jogo após atuações lastimáveis, e a ambição virou chacota a cada objetivo frustrado nas últimas temporadas. Roberto cumpriu seu papel mais importante ainda em 2013/14: reestabeleceu um alto padrão para o Everton, que deveria ser seguido nos anos seguintes. Contagiou todos ao seu redor, trouxe uma lábia e "modernidade" com a qual o Everton não estava acostumado. Sua filosofia de posse de bola, condizente com as tendências do futebol pós-Guardiola deveria ser a porta de entrada dos Toffees no século XXI, juntamente com uma placa dizendo "Voltamos!". Mas na verdade, acabamos voltando para dias obscuros. Manter-se fiel à sua ideologia futebolística foi um erro grave e a Premier League não perdoa isso. Analisando o elenco, o Everton de Martinez acabou sendo um time de contra-ataque querendo jogar tiki-taka. Não funcionou no geral.

Os números da Era Martinez
O entusiasmo de Roberto Martinez tornou-se seu próprio veneno e o epitáfio de seu sonho, em que todos nós acreditávamos. Ao tentar transformar seu sonho em realidade da forma mais fiel possível, Martinez promoveu o maior ato de sabotagem da sua carreira. Infelizmente, imprevistos acontecem e eles deveriam ser rotulados apenas assim; no Everton, imprevisto virou rotina. E então o sonho virou um pesadelo. 

As intenções eram boas, Roberto, sabemos disso. Porém não foi suficiente, não se transformou em prosperidade. Boa sorte.

3 comentários:

  1. Godspeed Martínez, valeu pela temporada retrasada. E que venham as taças nas próximas!

    ResponderExcluir
  2. Koeman e De Boer me agradam... Pelegrini, tbm seria legal.... Ja Mourinho eh utópico neh

    ResponderExcluir