domingo, 28 de dezembro de 2014

Dois anos em um


Tem sido um quanto complicado tentar desvendar o que se passa em Finch Farm ultimamente. A única coisa que realmente mudou de uma temporada pra outra foi o uniforme; os jogadores são os mesmos, o staff, idem... então como explicar uma temporada tão ruim do Everton até agora?

Mas calma, pra clarificar este pedaço de texto, é bom lembrar do que houve entre janeiro e maio de 2014. Nesses cinco meses, lutamos incansavelmente por uma vaga na Champions League, que não veio graças aos contínuos tropeços contra equipes mais fracas (a derrota para o Crystal Palace em casa foi a que custou a vaga). Entretanto, não dá pra deixar de lembrar os pontos altos deste período: vitórias suadas contra Aston Villa, West Ham e Cardiff em casa, triunfo importante contra o Fulham em Londres, o domínio total sobre o Newcastle em St. James' Park, o baile tático pra cima do Arsenal em Goodison Park... vitórias e momentos que deixavam o torcedor com euforia e esperança, mesmo com uma derrota em clássico e outros tropeços. Terminamos a temporada 2013/14 com um recorde de pontos na competição, com a terceira melhor defesa do campeonato e, o mais importante, com o respeito do mundo da bola.

Se a vaga na Champions League não veio, o respeito e a credibilidade voltaram a Goodison Park em 2013/14
Veio o período de transferências e as prioridades foram cumpridas: Barry e Lukaku permaneceram em definitivo, após negociações complicadas; o promissor Besic foi contratado; Samuel Eto'o, quem diria, pousou com muita moral em Merseyside; e Atsu, para reforçar o setor ofensivo do meio-campo, também chegou. A princípio, parecia o suficiente: nenhuma das estrelas da temporada anterior havia saído, como era comum no Everton. Logo as coisas tomaram outro rumo: uma pré-temporada ruim já indicava certa preocupação por parte da torcida.

Intenso no ataque, inoperante na defesa: o Everton no início desta temporada
Nos primeiros jogos, o Everton conseguiu manter um ritmo intenso no ataque, mas era completamente inútil no setor defensivo, o que resultou em dois empates ruins, contra Leicester e Arsenal (dois jogos em que ficamos na frente até minutos finais da partida), e uma goleada massiva em casa, diante do Chelsea. Mesmo assim, o clube optou por não contratar mais ninguém naquela janela e seguimos em frente.

Na Europa League, o Everton ainda consegue ser forte e está entre os favoritos a ganhar a competição
Veio a Europa League, e demos sinais de que o time anteriormente forte e perspicaz ainda estava lá, com vitórias satisfatórias contra Wolfsburg e Lille, além do primeiro lugar no grupo H. Ainda assim, continuávamos a cambalear nas competições domésticas: eliminação na Copa da Liga, resultados ainda mais frustrantes na Premier League... É bem verdade que houveram diversas baixas relacionadas à lesões, e que a Europa League notoriamente atrapalha o calendário dos clubes, mas nada que já não soubéssemos. Deveríamos estar preparados para isso, e aí a qualidade do nosso elenco entra em questão mais uma vez: temos mesmo um elenco forte para brigar na ponta?

Jogadores importantes como Barry e Coleman tem atuado mal nesta temporada
Tem sido impressionante a queda de rendimento de nossos jogadores: Barry não lembra nem de longe o meio-campista de outrora; a defesa, principalmente Howard e Distin tem cometido erros completamente juvenis; Baines e Coleman também estão longe de encantar os olhos do torcedor; Lukaku tem atuado como um caneleiro... soma-se a isso a falta de um jogador criativo no meio-campo; enquanto Barkley e Mirallas são mais individualistas, carregadores de bola, nossos outros jogadores de frente não tem atuado com frequência e, quando entram, tem causado mais irritação do que satisfação (em especial McGeady). Talvez o único que ainda não foi afetado pela má fase do time é Naismith, que apesar de ter jogado mal na última semana, não deixa de mostrar disposição em campo. Nossos suplentes parecem não ter qualidade suficiente para fazer sombra ao time titular, talvez exceto por Besic, que vinha jogando muito bem nas últimas partidas, mas foi instantaneamente sacado por Martinez, para dar lugar à McCarthy.

Martinez precisa deixar a teimosia de lado, abrir mão de sua filosofia de posse de bola e aplicar um futebol mais direto ao Everton
E é no técnico espanhol que pretendo chegar. Se Roberto foi o símbolo que eu e muitos outros adotaram como representação do retorno à boa forma do Everton, também posso adotá-lo como símbolo dessa queda livre em campo. Obviamente não é a hora de falar em demissão, como já teria acontecido caso o Everton fosse Futebol Clube, mas é necessário dizer que o time tem que ser mudado drasticamente, a começar pela própria filosofia de Martinez. Essa mesma filosofia que parece interferir em todos os setores do time. Sabemos que a posse de bola - ou tiki-taka - é algo advindo do futebol espanhol, mas não usá-lo corretamente num ambiente dominado por presença física e futebol direto é suícido. E é isso que tem acontecido com o Everton: um time altamente previsível, com passe lento e defesa frágil, o que culmina em uma péssima campanha na Premier League 2014/15 até o momento. 5 vitórias em 19 partidas de um time que supostamente estaria brigando pelo Top 4; 8 derrotas até o momento (perdemos justamente oito partidas durante toda a temporada passada), sendo 4 nos últimos seis jogos, 3 contra times teoricamente inferiores. 31 gols sofridos, segunda defesa mais vazada da competição (atrás somente do QPR), sendo 10 gols originados de erros individuais - mais do que qualquer outro clube.

Os prós da temporada atual tem se resumido em lampejos, tamanha é a regularidade do Everton em atuar mal
Não bastasse a mediocridade tática, tem algo que o próprio Martinez reacendeu no clube e que agora parece ter desaparecido: paixão, desejo, vontade de vencer. Mais do que as performances ruins, nosso time praticamente anda em campo, mostrando às vezes lampejos de bom futebol e ambição, na maioria das vezes quando já é tarde demais. Essa passividade é o que mais preocupa: mesmo quando o time leva um "tapa na cara", como a derrota para o Southampton há dias atrás, essa surra não afeta o elenco e o treinador a ponto de causar uma mudança drástica e necessária. É bom lembrar que times como Tottenham e Liverpool também tem feito campanhas irregulares, mas mesmo assim conseguem pontuar, e não vacilam contra times da parte de baixo da tabela.

Chegaremos em 2015 num momento ruim, prestes a enfrentar um adversário brigando para não cair. Já conseguimos "acabar" com as sequências ruins de So'ton, Newcastle, Stoke e Hull, que será nosso anfitrião no dia 1. Os Toffees tem 3 dias para demonstrar bom senso, ao menos. Durante o mês de janeiro, precisaremos de reforços (que já precisávamos antes, mas ainda não tínhamos percebido isso), especialmente na defesa e no meio-campo, mas sobretudo, precisaremos de vergonha na cara para mostrar que o nosso "motto" não se perdeu mais uma vez. Nil Satis Nisi Optimum, até 2015.

É desse Everton que precisamos!

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